Não era para ser um discurso de despedida, afinal, odiamos despedidas, muito menos algo clichê, mas de jeito ou de outro, isso sempre acaba acontecendo.
Começou quando tinhamos dois ou três anos, e estávamos no maternal. Ninguém tem lembranças muito claras desse período. Depois disso veio o jardim. Quando falo sobre isso, sempre me vem na cabeça uma sala toda pintada de azul, inclusive as portas, que eram daquelas que se fechavam em duas partes, a de cima e a de baixo. Me lembro também de um carpete de EVA colorido, daqueles que se encaixam uns nos outros, provavelmente para nenhuma criança se acidentar. Era quando nós ainda fazíamos aniversários na sala de aula, e até tínhamos uma orta, era tão legal! Na Páscoa procurávamos por ovos escondidos por toda a escola, que não era assim tão grande. No Natal, tínhamos a honra da visita daquele bom velhinho, barbudinho, vestido de vermelho sabe? Ele nos dava bonecas e carrinhos tão legais, mas mal sabíamos que eram nossos pais que enviavam esses presentes horas antes para a escola. Embora eu descobrisse isso mais tarde, era impossível acabar com a magia.
Bem, depois que entrei no ensino fundamental, muitas mudanças aconteceram. Ah, e eu tinha um ábaco! Era azul, eu me lembro bem. Eram apenas três professoras, uma para matemática, outra português e por fim uma de ciências. Aquela escola também me traz boas lembranças. Me lembro que toda sexta feira, quando chegávamos na ultima aula, o cheiro de lenha invadia a sala dando indícios de que a pizzaria ao lado já estava funcionando. Eu usava mochila de rodinhas, uma da Barbie toda rosa, era meu xodó. E ainda me lembro daquela turminha de seis ou sete meninos e meninas, da qual eu fazia, e ainda faço parte. Já são onze anos, sei que não é pouca coisa, e foi um drama ter que me separar deles.
Por fim depois de alguns trancos e barrancos, chegamos ao desastroso ensino médio.
Ninguém sabia o que esperar, todos achavam que seria uma fase boa, seriamos uma das turmas mais velhas da escola, isso seria, ual, incrível! Eu ainda era nova na escola, mas aquele lugar tinha algo especial também, era tão aconchegante. O primeiro ano foi um pouco estranho, eu me desentendia com um menino folgado que era novo, mas felizmente ele não continuou conosco no ano seguinte. Passarmos por todas as crises que um bom aluno tem que passar. E três anos voaram, um mais rápido que o outro, e quando percebo, estou no terceiro ano do ensino médio, nem um pouco preparada para abandonar todo esse universo.
Agora, o ano está chegando silenciosamente ao fim e mal posso esperar pela formatura - adoro isso de usar becas, e aqueles chapeuzinhos maneiros com uma cordinha pendurada -, mas uma mistura de sentimentos controversos me invadem como uma onda, e não sei se fico aliviada ou triste, porque não tem coisa mais entristecedora nesse momento do que pensar que tudo isso está prestes a acabar.
Mas feliz ou infelizmente nossa brincadeira de ser adultos está por um fio de começar, e uma enxurrada está por vir, já posso sentir a água batendo no meu calcanhar, é a vida que segue.